Sermão #15
Poder na Fraqueza
Por Leandro B. Boer
Texto Base 1 Coríntios
2:2-5
“Porquanto
decidi nada saber entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. E foi
sob fraqueza, temor e grande tremor que estive entre vós. Minha mensagem e
minha proclamação não se formaram de palavras persuasivas de conhecimento, mas
constituíram-se em demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé não
se fundamente em sabedoria humana, mas no poder de Deus.”
Introdução
Vivemos em uma sociedade que
adora o poder, e precisamente nesta área de cobiça e ambição que o homem caiu
em Adão, essa busca por poder está na política, nos negócios, na vida social,
profissional, familiar, em todas as áreas, inclusive nas denominações
eclesiásticas existe uma sede pelo poder que chega até os púlpitos, um lugar
extremamente perigoso para o ego humano. Por outro lado, existe uma busca por
poder espiritual entre os crentes, mas por que queremos poder? Será que o
buscamos realmente para sermos testemunhas e vivermos em santidade e humildade?
Ou essa busca reflete um desejo egoísta de nos exaltar, impressionar,
influenciar e até mesmo manipular os outros? O mundo usa o poder para controlar
as pessoas, mas o próprio Jesus não só renunciou o poder humano como ensinou
tal verdade: “Qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que
vos sirva, e quem quiser ser o primeiro será o servo de todos” (Mc 10:43-44). O
apóstolo Paulo mostrou essa oposição, ao proclamar um paradoxo: o verdadeiro
poder está na fraqueza.
O Poder de Deus na fraqueza
da mensagem
A cruz ofende os homens, por que vai claramente contra suas ideias de
méritos humanos, não há nenhum ser, que por natureza gosta de ser despojado de
seus méritos, a cruz fere o orgulho dos homens, para os que perecem ela é
ofensiva, pois nela, os nobres e sábios terão que estar ao lado de desprezados
e miseráveis. Deus tomou a iniciativa de
salvar o pecador através da “loucura da pregação”, a filosofia e a sabedoria do
mundo falharam, e o que era impossível à sabedoria do mundo, Deus o fez através
da mensagem do Evangelho, “Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão
sendo destruídos, porém para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus”
(1 Co 1:18), com toda a sua fraqueza é pela cruz que Deus demonstra o seu poder.
Os judeus esperavam sinais de poder e não Cristo crucificado e debaixo de
maldição, isso se tornou escândalo e um tropeço para suas expectativas de um
poderoso líder. Os gregos, por sua vez, esperavam demonstrações de sabedoria e
lógica humana, a cruz era então uma loucura total, os próprios cidadãos romanos
eram contrários à execução na cruz por considerarem-na desumana, o orador
romano Cícero incentivava todos a sequer citar a palavra “cruz”; mas ao
contrário de tudo isso, Deus fez da cruz o meio para mostrar sua sabedoria e poder,
“Cristo é o poder e sabedoria de Deus, por que a insensatez de Deus é mais
sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que o poder dos
homens” (1 Co 1:24b-25).
A cruz continua sendo uma pedra
de tropeço para essa geração moderna que adora o poder humano, que confia em
sua sabedoria e justiça própria, para eles a expiação vicária de Cristo é
absurda, mas para aqueles a quem Deus chamou, não é loucura e escândalo, mas é
o poder de Deus, porque nela Deus fez possível a nossa salvação, ela é nossa
fonte de reconciliação, a chave que nos liberta da escravidão do pecado, do
egocentrismo, e nos leva a uma nova vida de santidade, a cruz é a sabedoria de
Deus, por que nela Ele pôde ser ao mesmo tempo o justo e justificador,
demonstrando seu amor e sua justiça.
O Poder de Deus na fraqueza
do mensageiro
O mundo prega: “confie em si
mesmo”, e muitos pregadores acabam seguindo isto, o filósofo Nietszche propunha
um mundo dominado por homens poderosos, seu ideal era o “super homem”, e um
mundo sem lugar para seres débeis e fracos, Nietszche adorava o poder e
depreciava Jesus Cristo pela sua fraqueza, ao contrário do filósofo, Jesus usou
uma frágil criança como modelo, ensinando que a fragilidade humana é o terreno
na qual Deus manifesta seu poder, Paulo mostrava sua fraqueza, vulnerabilidade
e admitia seus medos, “estive entre vocês sob fraqueza, temor e tremor” disse
aos coríntios onde muitos haviam se levantado contra ele e seu ministério, minando
sua reputação, acusaram-no de não ser completamente judeu, que não merecia o
título de apóstolo, pois não havia seguido Jesus em seu ministério terreno,
acusaram-no de ser um falso profeta, interessado em dinheiro, e ele, mesmo
relutante, se defende através de uma lista referencial, declarando-se judeu da
tribo de Benjamim, fariseu, ex-aluno do grande mestre Gamaliel, era apóstolo
com chamado do próprio Cristo ressurreto, se sustentava para evitar receber
dinheiro da igreja, e aliado a tudo isso, enumera uma lista impressionante, de
açoites, encarceramentos, insultos e dificuldades. O grande missionário Hudson
Taylor dizia: “Todos os gigantes usados por Deus foram e são pessoas fracas”. Hoje
parece não haver espaço na igreja para dizer: “Eu sou fraco”, mas Paulo foi
além ao referir-se a si mesmo como “refugo e escória”, mesmo na época dos
grandes apóstolos ele reconhecia sua fraqueza, recusava-se a usar sua própria
sabedoria ou retórica e pregava Cristo crucificado, confiando no poder de Deus,
ele disse com certa ironia: “Tenho para mim, que Deus nos pôs, apóstolos, por
últimos, como condenados à morte, somos feitos espetáculos ao mundo, tanto a
anjos como a homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em
Cristo, nós fracos, e vós fortes, vós ilustres, e nós desprezíveis. Até o presente
momento, padecemos fome, sede, estamos nus, e recebemos bofetadas, não temos
pousada certa e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos, somos
injuriados e bendizemos, somos perseguidos e os suportamos, somos difamados e
exortamos, até o presente somos considerados como refugo do mundo e como a
escória de tudo.” (1 Co 4:9-13).
O Espírito Santo trabalha no território
da fraqueza humana, não que devamos simular fraqueza ou reprimir nossa
personalidade, mas devemos reconhecer nossa dependência, que o poder não é
nosso, que não podemos contribuir em nada que é nosso, nada em nós, somente o
Espírito Santo para convencer e salvar. “Temos, porém, este tesouro em vasos de
barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não da nossa parte” (2 Co
4:7), não podemos nos esquecer que somos pó, levantados pelo sopro de Deus,
somos vasos de barro moldados nas mãos do oleiro, e é maravilhoso saber que
mesmo com toda a nossa fragilidade, Deus nos escolheu para colocar os seus
tesouros.
O Poder de Deus na fraqueza
dos chamados
Ninguém que se acha forte ou autossuficiente
aceitará a mensagem da cruz, “Deus escolheu as coisas loucas do mundo para
confundir os sábios, e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir
as fortes, e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as
que não são para reduzir a nada as que são” (1 Co 1:27-28), somente os fracos
aceitam o evangelho,a igreja é lugar de fracos, Deus salva ricos e sábios,
Paulo era sábio, seu discípulo Gaio era um homem muito rico, mas se alguém que
é forte do ponto de vista humano quiser ser alcançado e salvo, deverá estar
disposto a se tornar fraco, Paulo era instruído, tinha autoridade, mas teve que
reconhecer sua fraqueza, ao ficar cego e ter que aprender com um simples homem
idoso chamado Ananias.
Deus transforma a nossa fraqueza
em poder, “Por que apesar de ter sido crucificado em fraqueza, Cristo vive, e
isso pelo poder de Deus. Semelhantemente, somos fracos Nele, mas pelo poder de
Deus viveremos com Ele para vos servir” (2 Co 13:4), Deus nos chamou para
servir, “Que os homens nos considerem, pois, como servos de Cristo e
despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Co 4:1), o poder de Deus é dado aos
servos, Paulo usa o termo grego “opereta”, com qual eram conhecidos os
remadores que ficavam no nível mais baixo dos grandes barcos antigos, o barco
navegava e eles não apareciam. Deus escolheu salvar os pecadores, fracos,
desprezados, por que todo o crédito da salvação pertence a Ele, na história
vemos Deus usando pessoas fracas e as transformando em gigantes, como Moisés,
Davi, José, Gideão, Pedro, Tiago e João, quando Deus quer usar alguém forte
como Paulo, Ele humilha-o, para então exaltar (1 Pe 5:6), deve haver um auto
esvaziamento: “Mas o que para mim era lucro, passei a considerar como perda por
causa de Cristo. Mais do que isso, considero como perda, tudo, comparado com a
suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, Senhor, por cuja causa perdi
todas as coisas. Eu as considero como esterco para ganhar a Cristo” (Fp 3:7-8).
O Poder de Deus
aperfeiçoado na fraqueza
O apóstolo Paulo se sentia
constantemente afligido por um “espinho na carne”, e orou três vezes para Deus
removê-lo, ao que o Senhor o respondeu: “A minha graça te basta, porque o meu
poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9), então surpreendentemente Paulo
declara: “Por isso de boa vontade, antes, me gloriarei nas minhas fraquezas, a
fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo. Pois quando sou fraco, então é
que sou forte” (2 Co 12:10), Paulo começou a não apenas tolerar, mas
transformar suas fraquezas no lugar onde adquiria poder de Deus, reverteu o
espinho em benção, e como alcançou este nível? Através da revelação de Jesus
Cristo, onde “o poder se aperfeiçoava na fraqueza”, através da cruz e da
humilhação, “Cristo esvaziou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo,
tornando-se semelhante aos homens, e na forma de homem, humilhou-se a si mesmo,
sendo obediente até a morte e morte de cruz. Pelo que Deus o exaltou
sobremaneira.” (Fp 2:7-9), se a cruz foi o meio para atingir a glória, na qual
Cristo venceu, Paulo enxergou no espinho um meio para se refugiar em Cristo.
A bíblia não revela qual seria
esse espinho na carne de Paulo, mas mostra que aquela fraqueza foi permitida
para manter Paulo dependente e humilde perante Deus, mas como pode um espinho
doloroso causar um bem? Como pode uma fraqueza me causar deleite? O que seria
esse espinho? Podemos dizer que é algo que causa dor e não conseguimos remover,
e às vezes a solução de Deus não é removê-lo, mas preencher a ferida com seu
poder, a benção não veio diretamente do espinho, mas do que ele provocou. Creio
que todos nós possuímos espinhos na vida, internos e externos, uma luta
pessoal, e nesta hora, se torna um alívio depender de uma força que não é nossa
para vencer, “o Espírito nos assiste em nossa fraqueza” (Rm 8:26), os heróis da
fé “da fraqueza tiraram forças” (Hb 11:34), nós buscamos uma vida confortável e
somente diante dos espinhos aprendemos que somos fracos, e que a solução é se
humilhar perante Deus e confiar Nele, em seu poder, em sua força, declarando:
“Tudo posso, naquele que me fortalece” (Fp 4:13).
Conclusão
Temos, então, uma mensagem que expressa fraqueza pela cruz, proclamada
por pregadores fracos e cheios de temor e recebida por pessoas fracas e desprezadas
pelo mundo, Jesus é a imagem que reflete o principio do poder pela fraqueza,
pois Ele se esvaziou e o diabo lhe ofereceu poder, mas Ele tomou a cruz, a
expressão máxima de humilhação e provou a morte, o maior sinal da fraqueza
humana, mas eis que essa imagem de fraqueza é vista até no céu: “João viu no
meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, em pé, um Cordeiro
que parecia estar morto” (Ap 5:6), vejam essa imagem que reflete a total
fraqueza entronizada, um cordeiro “como que imolado” no meio do trono da Glória.
Aleluia! A fraqueza no poder, e diante do trono depositarão coroas aos seus pés
(Ap 4:10) e proclamarão: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a
glória, a honra e o PODER”