Sermão #2
O Cordeiro, O Filho e O Noivo
Por Leandro Boer
Textos Base “Eis o Cordeiro de Deus (...) o Filho de Deus (...) e o Noivo”
(João 1:29,3:4;3:29)
Introdução
No tema central de
seu testemunho em relação à pessoa de Jesus Cristo, João Batista usa três
termos expressivos em referência a Ele: o Cordeiro de Deus, o Filho de Deus e o
Noivo; são três apresentações de Cristo a um mundo perdido, que revelam o
pensamento do Pai a respeito da obra abrangente de seu Filho, e vieram
diretamente de Deus para João Batista, que preparou o caminho do Messias para
enfim o declarar: “Eis o Cordeiro de Deus...” apontando sua obra expiatória,
“testifico que Este é o Filho de Deus...” revelando sua divindade, “sou amigo
do Noivo...” revelando o seu advento para buscar sua noiva, a igreja.
O Cordeiro
Por duas vezes João
Batista fala de Jesus apresentando-o como o Cordeiro de Deus (Jo 1:29,36), uma
descrição simples, mas muito profunda em seu significado; a figura do Cordeiro
aparece 27 vezes no Livro de Apocalipse e raras vezes aparecem em outros
lugares das escrituras (Is 53:7; At 8:32; 1 Pe 1:19), a primeira vez que
aparece na Bíblia é associada a um sacrifício quando Isaque clama ao seu pai
Abraão: “onde está o cordeiro para o holocausto?”, e a primeira vez que aparece
no novo testamento é através da voz do que clama no deserto, respondendo a pergunta
que ecoou durante séculos entre a nação de Israel: “Eis o Cordeiro de Deus”, o
AT pergunta e o NT responde, na plenitude dos tempos, Cristo veio como Cordeiro
de Deus para ser levado ao matadouro, apresentando a figura de sua frágil
humanidade.
João
Batista não somente apresenta o sacrifício vivo, mas revela a quem pertencia o
sacrifício: “Cordeiro DE DEUS”, ou seja, Jesus foi enviado pelo Pai para ser
sacrificado. Revela também o objetivo desse sacrifício: “Eis o Cordeiro de
Deus, que TIRA O PECADO do mundo”, isto é muito forte, Jesus veio pagar pelos
nossos “pecados”, isso se chama expiação, mais do que isso, veio enfrentar o
PECADO, em sua forma total, bem como na raiz do problema. O original traduzido
por “tira” significa “erguer, levantar, levar e retirar”, tirar a iniquidade
dos pecadores foi um processo inconcebivelmente doloroso que Jesus suportou na
cruz. Ante a um Cordeiro sem mancha ou defeito. Mais inocente do que uma
criança. Tão amável e manso, que foi crucificado e nem abriu a sua boca, Ele se
entregou por mim e por você. Diante disso nos unamos ao coro celestial que
proclama: “Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e
sabedoria, e força, e honra, e glória e louvor” (Ap 5:12).
O Filho de
Deus
Quando Jesus foi
batizado no Rio Jordão, aconteceu algo que João Batista aguardava ansiosamente,
e ele deve ter testemunhado o ocorrido com um brilho no olhar e um sorriso que
raramente dava: “Eu vi o Espírito descer do céu como pomba e pousar sobre ele.
Eu não o conhecia; aquele, porém, que me enviou a batizar com água me disse:
Aquele sobre quem vires descer e pousar o Espírito, esse é o que batiza com o
Espírito Santo. Pois eu, de FATO, vi e tenho testificado que ele é o FILHO DE
DEUS”; ainda que as pessoas que estavam em torno do rio ouviram o barulho de um
trovão, João Batista ouviu nitidamente a voz de Deus Pai dizendo: “Este é o meu
Filho Amado, em quem me comprazo” (Mt 3:17). Através dessa revelação João
proclamava: “Ninguém jamais viu a Deus; o Filho unigênito (em algumas traduções
‘o Deus unigênito’), que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo 1:18),
apresentando a divindade na figura do Filho de Deus, C.S. Lewis disse que “o
Filho de Deus se tornou homem para
possibilitar que os homens se tornem filhos de Deus”.
No antigo testamento,
o rei Davi apresenta o messias, o “ungido”, no Salmos 2:6-7: “Ungi o meu Rei
sobre o seu santo monte de Sião. Proclamarei o decreto do Senhor: Ele me disse:
Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”, assim como João Batista, Davi foi
testemunha da fala divina dirigindo-se ao Filho quando Deus firmou uma aliança
com ele e lhe prometeu uma descendência
e um trono eterno.
Em Hebreus 1:5, o autor usa o decreto do Pai
declarando o Messias como seu Filho, e o evangelho de João, diferente dos
outros , que se iniciam com a genealogia terrena de Jesus, declara a genealogia divina de Jesus:
“No principio era o Verbo...e o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio
de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.”
(Jo 1:1,14), essa expressão “unigênito”, se traduz de uma palavra grega que
refere-se explicitamente à geração eterna do Filho na Trindade. Jesus foi
concebido pelo Espírito Santo (Lc 1:35), não nasceu do sangue e da vontade da
carne, e semelhantemente nós somos gerados pelo Espírito no novo nascimento (Jo
3:1-21), e “todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos
de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome” (Jo 1:12). Jesus, mesmo sendo o
Filho Único, não foi egoísta. Por amor a pecadores como nós, Ele morreu e nos
comprou reivindicando-nos agora como seus irmãos, nos adotou na família de
Deus, e revela o profundo desejo de estarmos junto Dele: “Pai, a minha vontade
é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste” (Jo 17:24).
O Noivo
A terceira figura que João Batista se utiliza para revelar
Jesus é a do Noivo; depois que Jesus foi batizado e iniciou seu ministério
junto de seus discípulos que batizavam aqueles que se arrependiam e se
convertiam (Jo 4:2), houve uma contenda por parte de alguns judeus, alegando a
João Batista que Jesus estava atraindo as multidões e batizando mais do que o
próprio João. Então João Batista declara: “Eu não sou o Cristo, mas fui enviado
como seu precursor. O que tem a noiva é o noivo; o amigo do noivo que lhe serve
e o ouve, alegra-se grandemente por causa da voz do noivo. Portanto, essa
satisfação já se cumpriu em mim. É necessário que Ele cresça e que eu diminua”
(Jo 3:28-30).
João Batista já havia avisado que viria outro “da qual ele
não era digno de desatar as correias de suas sandálias” (Jo 1:27), e que não
batizaria com água, mas com Espírito e com fogo (Mt 3:11), por que era o
precursor, aquele que preparou o caminho, e aos questionadores ele compara-se
ao “amigo do noivo”. Para entendermos melhor, na cultura da época, antes do
casamento havia o noivado, que era diferente do que conhecemos hoje. Os noivos
ficavam um ano sem nenhum contato, então o noivo separava duas pessoas de
confiança, geralmente amigos ou parentes, para duas missões: a primeira fazer
os preparativos para o casamento, e outra para auxiliar e preparar a noiva. Neste
sentido, João Batista se declara o “amigo do noivo”, pois preparou Israel para
vinda de Jesus, “Ele veio para o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo
1:11), mas o casamento não foi cancelado, a noiva está sendo preparada, o
Espírito Santo foi enviado para preparar e adornar a Igreja do Senhor, a noiva
do cordeiro (Jo 16:1-15; Ap 21:2).
No antigo testamento vemos Abrãao enviando seu servo para
buscar uma esposa para seu filho Isaque (Gn 24:4). No novo testamento vemos Paulo aplicando a si
a figura do servo levando os coríntios a se apaixonarem por Cristo e pedindo
para que se apresentassem a Ele “como virgem pura” (2 Co 11:2-3), ou seja,
quanto ao serviço, Paulo e João Batista são “amigos do noivo” para trazer a
Noiva a Cristo, e quanto a posição, serão parte daqueles posteriormente
apresentados como a Noiva celestial (Ap 19:7-8;21:9). Assim como eles, nós
somos enviados como amigos do noivo para cooperar com o Espírito Santo na
preparação da noiva de Cristo ao mesmo tempo em que somos essa noiva.
João Batista tinha consciência de que a noiva não era dele e
não poderia se apaixonar por ele “a noiva pertence ao noivo” enfatizou ele, e
disse que era um servo, um mordomo, que estava muito satisfeito por tamanha
honra, ao contrário de muitos que se dizem homens de Deus hoje em dia, mas que
tomam o lugar do Noivo e se sentem donos da noiva, e ao contrário desses que
querem aparecer e ficarem famosos, o profeta deixa uma mensagem para os nossos
dias, para cada um de nós: “Que Ele cresça e que eu (o eu) diminua”.
Conclusão
Essa tríplice visão de João Batista, de Jesus como o Cordeiro
de Deus. De Jesus o Filho de Deus. E de Jesus o Noivo, nos dá uma clara
exposição do plano de Deus para nós: “Deus amou o mundo de tal maneira, que deu
o seu Filho unigênito, para que todo aquele que Nele crer não pereça, mas tenha
a vida eterna” (Jo 3:16), Jesus morreu em nosso lugar, Ele é o nosso cordeiro
pascal, precisamos entender que Deus não podia simplesmente nos perdoar dizendo
“eu te perdôo”, pois Ele é Santo e Justo, nós somos culpados e “sem
derramamento de sangue não há remissão” (Hb 9:22). Diante desta verdade a morte
de Cristo foi necessária para expiar nossos pecados através de um sacrifício
perfeito, essa perfeição só poderia ser possível se o próprio Deus a
realizasse. Por isso o Filho de Deus foi enviado.
Por fim aqueles que
crêem, os crentes, a noiva de Cristo, não é apenas inocentada pela retirada dos
pecados que foram imputados em Cristo, mas justificada, a justiça de Cristo é
imputada nela (2 Co 5:21) para que tenhamos acesso a vida eterna, pois “os
justos herdarão a terra e nela habitarão” (Sl 37:29), e Jesus prometeu a sua
noiva: “Na casa de Meu Pai, há muitas moradas...eu voltarei e vos receberei
para mim mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também” (Jo 14:2-3).
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