Série de Sermões
O Evangelho segundo João
Sermão #6
Eu Sou a luz do mundo
Por Leandro Boer
Texto Base: “Falando novamente ao povo, Jesus disse: ‘Eu sou a luz do mundo’; Quem me segue, nunca andará em trevas, mas
terá a luz da vida”.
(João 8:12)
Introdução
Continuando a nossa série de mensagens no Evangelho segundo João, em
João capítulo 6, Jesus faz sua primeira declaração, de um total de sete,
utilizando o termo divino “Eu Sou”, dizendo: “Eu Sou o Pão da Vida, o que vem a
mim jamais terá fome, e o que crê em mim, jamais terá sede” (Jo 6:35), e junto
a essa declaração de reivindicação divina, Ele realiza o primeiro milagre,
também de um total de sete no evangelho de João, multiplicando os pães e
peixes, como sinal para comprovar as suas palavras.
Nesta mensagem, meditaremos em sua segunda
declaração, onde Jesus afirma: “Eu Sou a Luz do mundo”. Logo em seguida Ele
comprova esta verdade, curando um homem cego de nascença no capítulo 9. Mostrando
que Ele veio para abrir os nossos olhos, da nossa cegueira espiritual e iluminar
a nossa mente obscurecida pelo pecado. Pois “Ele é a verdadeira luz, que vinda
ao mundo, ilumina a todo homem” (Jo 1:9), Jesus Cristo é a fonte de luz que no
princípio da criação decretou: “Haja luz” (Gn 1:3).
Rios de águas vivas
Jesus estava em
Jerusalém na Festa dos Tabernáculos que durava oito dias, celebrando a graciosa
provisão dada por Deus aos israelitas durante os quarenta anos no deserto.
A festa era realizada ao término da colheita anual, havia um
cerimonial de águas correntes, para lembrar a água que brotou da rocha e saciou
o povo no deserto.
Os sacerdotes marchavam pela cidade em procissão carregando
vasos dourados do templo, cantando Salmos 113 ao 118 acompanhados de címbalos e
trombetas, e enchiam esses vasos com água do tanque de Siloé e no último dia da
festa eles derramavam essas águas no altar e essas desciam as escadarias do
templo.
No último e grande
dia da festa, Jesus se apresenta como a verdadeira “rocha ferida” (1 Co 10:4),
e declara: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz
a escritura, do seu interior fluirão rios de águas vivas” (Jo 7:37-38).
O povo no deserto
matou a sua sede na água da rocha ferida por Moisés, e Cristo foi ferido na
cruz do Calvário onde liberou água do seu lado, referindo-se ao Espírito Santo
que Ele derramaria sobre os sedentos.
Uma grande discussão
começou na cidade entre os fariseus que reprovavam Jesus e os judeus que
passaram a crer em suas palavras.
Luz do mundo
O capítulo 8 de João
nos informa que Jesus ficou a noite toda orando no Monte das Oliveiras, desse
monte era possível contemplar um grande candelabro aceso no templo durante as
noites de festa dos tabernáculos. Os judeus caminhando na cidade com suas
lâmpadas nas mãos, remetendo à coluna de fogo que aquecia os israelitas no
deserto, naquela mesma noite as luzes da festa se apagaram enquanto Jesus orava
no monte.
Pela manhã Jesus foi direto
ao templo e enquanto ensinava a palavra, os religiosos surgiram com uma mulher
apanhada em adultério. Ela foi jogada aos pés de Jesus para ser julgada segundo
a lei, onde dizia que ela deveria ser apedrejada. Mas o Mestre mostra o
evangelho da graça: “Aquele que não tem pecado, seja o primeiro a atirar a
pedra contra ela” (Jo 8:7).
Todos se sentem
acusados em suas consciências e a mulher então é liberta. O único que não tinha
pecado na multidão era Jesus, que lhe diz: “eu não te condeno, vai e não peques
mais” (Jo 8:11). Aquela mulher que estava nas trevas do pecado, encontra a luz.
Enquanto todos se perguntavam quem era aquele homem, Jesus
então decide declarar mais uma faceta de sua identidade: “Eu Sou a Luz do
mundo, quem me segue não andará em trevas, pelo contrário, terá a luz da vida”
(Jo 8:12).
O termo “phos” que
Jesus usou para luz, era muito conhecido de todos que o ouvia, e significava
“tornar a verdade manifesta”. Aos fariseus que começaram a questiona-lo, Jesus
diz: “conhecereis a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8:32).
Essa luz não apenas revela e liberta, mas Jesus se apresenta
como a luz que “dá a vida”, assim como os raios do Sol que realizam o processo
de fotossíntese dando vida as plantas, à luz de Cristo brilha em nossos
corações dissipando as trevas, para “andarmos na luz”, pois Jesus disse: “vós
sois a luz do mundo” (Mt 5:13).
Eu Sou
Os fariseus
começaram novamente a desacreditar de suas palavras, alegando que Ele
testemunhava de si mesmo, ao que Jesus disse: “Na lei está escrito que o
testemunho de duas pessoas é verdadeiro; Eu testifico de mim mesmo e o Pai que
me enviou também testifica de mim” (Jo 8:17-18).
Os fariseus
entenderam mal a reivindicação de Jesus, pois pensaram que Ele se referia ao
seu pai terreno; aquela cegueira dos fariseus em relação a Jesus mostra que
eles conheciam a lei, mas não tinham o conhecimento de Deus. Então Cristo
sentencia o fim deles e de grande parte da humanidade: “Se não credes que ‘Eu
Sou’, morrereis em vossos pecados” (Jo 8:24), e Jesus continuou a profetizar:
“Quando levantardes os Filho do homem, então sabereis que ‘Eu Sou’, e que nada
faço por mim mesmo, mas falo o que o Pai me ensinou” (Jo 8:28), ao anunciar essa
mensagem da cruz, “muitos creram” (Jo 8:30).
Os fariseus
acirraram a discussão em torno da filiação de Jesus, dizendo: “Somos filhos de
Abraão... não somos bastardos” (Jo 8:39,41), sugerindo sarcasticamente que
Jesus era filho ilegítimo, ao que o Mestre revela que eles estavam nas trevas
da ignorância e do erro, dizendo: “Vós sois filhos do diabo” (Jo 8:44), por causa
das mentiras que afirmavam. Nisso os fariseus blasfemaram e disseram que Jesus
estava possuído por demônios.
Jesus decide aumentar
o nível de revelação e diz: “Se alguém guardar a minha palavra, não provará a
morte eternamente” (Jo 8:51), estendendo sua promessa para além da vida terrena
e reivindicando novamente a sua estatura divina. Ao que os fariseus reagiram
apelando para a figura patriarcal do “pai da fé”: “És maior que o nosso pai
Abraão, que morreu?”, e Jesus encerra a discussão com a sua maior declaração
afirmando sua divindade: “Em verdade, em verdade, antes que Abraão existisse,
Eu Sou”; ao dizer isso Jesus quase foi apedrejado no templo, então se ocultou por
um tempo, mas voltaria para provar as suas palavras naquele mesmo dia.
O cego de nascença
Caminhado pela
cidade naquele dia de sábado junto de seus discípulos, Jesus parou em frente a
um homem que estava no chão, um cego de nascença conhecido na cidade. Aquele
homem nasceu cego, cresceu cego, não sabia ler ou escrever, tinha sua família,
mas era considerado um inútil pela sociedade judaica. Que o apontava como sendo
castigado por seus pecados e os pecados de seus antepassados. Existia a chamada
“maldição hereditária” entre eles, que julgavam as pessoas que tinham qualquer
tipo de doença.
Jesus enxergou
aquele homem, algo que a multidão ignorava, enxergou sua vida na escuridão,
enquanto todos enxergavam apenas seus pecados, os próprios discípulos utilizaram
o olhar de julgamento: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais para que nascesse
cego?” (Jo 9:2).
Jesus o tratou na sua
individualidade e na sua necessidade, respondendo: “Nem ele pecou, nem seus
pais, mas foi assim para que se manifestassem nele, as obras de Deus” (Jo 9:3).
Cristo veio para mostrar a nossa cegueira espiritual, para mostrar que “Todos
pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3:23), acabamos herdando o
pecado de Adão para que em nós se manifestassem as obras de Deus.
Surpreendentemente,
Jesus cuspiu na terra, e tendo feito lodo com sua saliva, aplicou nos olhos do
cego, e disse: “Vai-te ao tanque de Siloé”, aquele homem conhecia bem o caminho
mesmo sendo cego, mas naquele dia deve ter tropeçado ou quase se perdido,
tamanha a pressa de se lavar, e quando chegou ao tanque e se lavou, começou a
enxergar pela primeira vez na sua vida.
Deus transformou suas
trevas em luz (Sl 18:28), e enquanto glorificava a Deus o cercaram para
perguntar: “Como os teus olhos foram abertos?”, ao que ele sorrindo respondeu:
“Foi o homem chamado Jesus” (Jo 9:11).
Sujeira nos olhos
Muito se discute
sobre a necessidade do “lodo” que Jesus fez com sua própria saliva. Enquanto
meditava nessa palavra o Espírito Santo me revelou algo muito simples de se
entender: aquele lodo representa a sujeira que nos impede de enxergar, é o
pecado que cegou os nossos olhos espirituais, e que necessitam do “lavar
regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3:5).
Neste caso foi representado pelas águas do tanque de Siloé, mostrando
a necessidade de se lavar e se purificar do pecado; o barro produzido pelas
mãos de Jesus aponta para nossa fragilidade e dependência de Deus porque viemos
do “pó da terra”, fomos moldados pelas mãos do próprio Deus.
Por outro lado, Jesus
queria atingir os fariseus com aquele ato, pois não queriam enxergar a verdade
por causa da sujeira que havia em seus corações, esta verdade é em relação ao
agir do diabo no mundo espiritual, da qual o apóstolo Paulo adverte: “O deus
deste século, cegou o entendimento dos incrédulos, a fim de que não vejam a luz
do Evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4:4).
Aquele que fora
cego, por ter sido curado em um dia de sábado, pois na lei não deveriam fazer
nenhum tipo de trabalho, o levaram ao templo a fim de interrogá-lo, pois
queriam provas contra Jesus de alguma forma. Mas aquele homem estava tão
convicto, que mesmo correndo risco de morte perante os implacáveis fariseus,
testemunhou o seu milagre diante do povo e das autoridades, declarando ainda
que Jesus era um enviado de Deus: “Sabemos há muito tempo, desde que há mundo,
jamais se ouviu, que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença; se
este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito” (Jo 9:34).
Os fariseus, cegos de
entendimento espiritual, ficaram tão contrariados que o expulsaram do templo.
A face de Cristo
Fora do templo, o
homem curado deve ter procurado Jesus por todos os lados, aquele que o libertou
das trevas merecia um abraço de agradecimento, mas o próprio Jesus decidiu se
encontrar com aquele que fora cego, e olhando nos seus olhos lhe perguntou:
“Crês tu no Filho do Homem?”, ele então disse: “Quem é Senhor, para que eu nele
creia?”, e Jesus respondeu: “Você o está vendo agora, é o que fala contigo”, o
homem se ajoelhou aos pés de Jesus e disse: “Creio Senhor, e o adorou” (Jo
9:35-38), por que reconheceu que Ele não era um homem comum a ser abraçado, mas
o próprio Deus que deveria ser adorado.
Naquele dia, aquele
que nasceu cego, contemplou a Glória de Deus na face de Jesus, seus olhos
abriram e seu coração recebeu a luz do amor de Deus. Como Paulo diz: “Porquanto
foi Deus quem ordenou; ’Das trevas resplandeça a luz! ’, pois Ele mesmo
resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de
Deus na face de Cristo” (2 Co 4:6).
Conclusão
Jesus veio ao mundo para abrir os nossos olhos, e devemos pedir a Ele
que remova toda a sujeira que nos impede de enxergar a sua face, infelizmente
muitos permanecem perdidos nas trevas, cegos espiritualmente, mesmo com a
verdade em sua frente. A respeito desses, Jesus profetizou: “Eu vim a este
mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem se tornem
cegos” (Jo 9:39).
Que uma vez iluminados pela luz do Evangelho
da Glória de Deus, possamos ser “luz do mundo” (Mt 5:13), declarando: “O Senhor
é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? (Sl 27:1), e levar essa luz
ao mundo que jaz nas trevas e no medo, pois “Deus é luz e Nele não há trevas
alguma, se dissermos que temos comunhão com Ele e andarmos nas trevas, mentimos
e não praticamos a verdade, se porém,andarmos na luz, como Ele está na luz,
temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus nos purifica de todo o
pecado” (1 Jo 1:5-7).
“No céu, não haverá noite, nem
necessitarão das luzes do candeeiro, nem da luz do Sol, pois o Senhor os
iluminará, e eles reinarão para todo o sempre” (Ap 22:5).
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