Sermão #17
Vitória pela Cruz
Por Leandro Boer
“Despojando as autoridades e poderes malignos, [Jesus
Cristo] os expôs publicamente ao desprezo, triunfando sobre todos eles na
cruz.”
(Colossenses 2:15)
Introdução
Existem três
tipos de explicações da Cruz: O objetivo, o subjetivo e o clássico. Nesta
mensagem, vamos nos concentrar no conceito clássico, da vitória conquistada na
cruz por Cristo e pela vitória estendida ao seu povo, tentando trazer um
equilíbrio, pois nas mensagens anteriores nos atentamos para as visões
objetivas e subjetivas, que acertadamente são mais enfatizadas para proclamar a
mensagem de cruz.
As Três visões teológicas sobre a Cruz
A cruz de Cristo é explicada teologicamente através de
três visões principais: no conceito “objetivo”, foi “de si para si” onde Deus
satisfez a si mesmo, pagando o preço pelo pecado e salvando pecadores através
do seu sacrifício. Este conceito foi defendido por Anselmo e pela igreja
reformada. No conceito “subjetivo”, foi “de si para o homem” onde Ele nos
inspira, retirando a culpa e revelando a si mesmo com seu santo amor provado
por sua morte. Este conceito foi defendido por Abelardo e é defendido por boa
parte da igreja atual. Por fim, no conceito “clássico”, mostra-se uma “guerra”
onde Jesus vence o diabo garantindo a conquista sobre a morte e sobre todos os
poderes do mal, sendo esse conceito defendido por Irineu, Agostinho e pela
igreja primitiva. Assim, o Senhor Jesus Cristo é sucessivamente, o Salvador, o
Mestre e o Vencedor, pois nós somos os culpados, alienados e cativos, em 1 Coríntios
1:30, Paulo apresenta esse “triplice cordão” apresentando Cristo sendo feito
“justificação, santificação e redenção” por nós, referindo-se aos aspectos
“satisfacionário”, “regenerador” e “vitorioso” da obra de Cristo, apontando que
esses conceitos devem ser como três lentes sobrepostas criando uma visão
harmônica onde a diferença principal está nos alvos da cruz: Deus, o homem e o
diabo.
A vitória de Cristo
A pregação dos
dias atuais é sobre um evangelho triunfalista onde o homem é colocado no centro
e lhe é prometido alcançar a “vitória”, até mesmo sobre pessoas que seriam
inimigos, mas se refletirmos na palavra chegaremos a um único e real inimigo, o
diabo, e existe apenas um Vencedor, Jesus Cristo; mas como enxergar vitória
naquele que foi rejeitado pela sua própria nação, naquele que foi traído, negado
e abandonado pelos seus discípulos e foi executado brutalmente na forma mais
humilhante possível?
Ao olhar para
Ele pregado em uma cruz, despido de sua liberdade, preso e impotente, parece
ser a derrota total, contudo a realidade é o oposto das aparências, o que
parece a derrota do bem é na verdade a derrota do mal, a vítima era o vencedor
e a cruz ainda é o trono da qual Ele governa o universo. Jesus venceu e triunfou,
e isso o fez pela cruz. Era comum no vocabulário da igreja primitiva, palavras
referentes a vitória, conquista e triunfo, e não apenas falavam mas cantavam
“somos mais que vencedores”. Diziam “graças a Deus que nos dá a vitória” e
“Deus em Cristo nos conduz em triunfo”.
O novo testamento é claro ao
mostrar essa vitória contra todos os principados e potestades. Mas devemos
ressaltar que atualmente existe uma certa fascinação, principalmente entre os
jovens, pelo ocultismo, algo totalmente contrário em relação a pregação da igreja
primitiva, onde existia até certo pavor em relação a demônios e feitiçaria. Por
outro lado a modernidade criou certa incredulidade em relação as atividades
demoníacas, logicamente não devemos nos preocupar excessivamente com o mal, mas
o ceticismo é um dos objetivos do diabo.
Mas como se
realizou a vitória de Cristo sobre todo o mal? Embora a vitória decisiva tenha
se dado na cruz, as escrituras
apresentam o desenvolvimento desta conquista, em seis etapas, conforme apontou
John Sttot em seu livro “A cruz de Cristo”:
O prenúncio da vitória
Em Gênesis
3:15, Deus disse a serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua
descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar”, a semente da mulher é identificada como sendo o Messias; Jesus disse que Ele era o grão de trigo que
deveria morrer para gerar muitos frutos; Eva representa a igreja do velho
testamento e a serpente é o próprio diabo. Nesta profecia, conhecida com
“proto-evangelho”, uma cena é apresentada: os dois seriam feridos; em algumas
traduções existe o termo “esmagar” para a ferida na cabeça, mas o original
apresenta termos iguais, é utilizado o termo “shuf”, que significa “bater com
violência”. Em um mesmo momento, a serpente atacaria e feriria o calcanhar do
Messias, isto é claramente para mim, representado no momento em que Cristo teve seus pés perfurados e pregados na cruz,
neste momento Satanás pensou que havia vencido, o que ele não imaginava é que quando
Cristo foi ferido na cruz, o profeta Isaías diz que “Ele foi ferido de Deus”
(Is 53;4). E que nesta mesma cruz, onde parecia ser o palco de sua derrota,
Cristo literalmente “esmagou” a cabeça da serpente, ferindo-a mortalmente.
O início da vitória
Ao reconhecer
seu futuro conquistador, Satanás se empenhou por eliminá-lo, como vemos no caso
do assassinato das crianças em Belém, ordenado por Herodes, vemos a tentação
sofrida por Jesus durante 40 dias no deserto logo após iniciar seu ministério,
a ideia implantada de um messias politico-militar. Jesus repreendendo Pedro
acerca da necessidade de seu sofrimento e a traição de Judas que literalmente
fora usado por satanás. Embora o inimigo tenha se levantado contra Jesus. Podemos
vê-lo retroceder a medida que os demônios reconhecem o senhorio de Cristo e são
expulsos, pessoas são curadas de suas enfermidades, e quando os discípulos
voltam de uma missão emocionados por terem expulsado os demônios, Jesus declara
que tinha visto Satanás “caindo do céu como um relâmpago” (Lc 10:18). Apontando
para sua derrota certa, e declara ainda que Satanás era valente, mas quando um mais
valente que ele o vencesse, “tiraria suas armas e dividiria seus despojos” (Lc
11:22). Indicando a libertação dos seus escravos pelo mais valente, o próprio
Jesus Cristo.
A realização da vitória
No evangelho
de João, o Senhor Jesus afirma por três vezes que o diabo seria julgado e
expulso e isso se realizaria através da cruz, através de sua morte Ele
destruiria “aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”. Assim
libertaria os cativos (Hb 2:14-15), mas talvez a passagem mais importante do novo testamento, que
apresenta a vitória do Messias, seja Colossenses 2:13-15, onde Paulo mostra
Cristo, não apenas cancelando nossa dívida, mas também destruindo o documento
na qual ela estava registrada. É bom deixar claro que Paulo considerava a lei
“santa, justa e boa” (Rm 7:12), portanto esse escrito de dívida não era a lei
em si, mas a lei “quebrada”. Isto é a lista que Satanás se utilizava com nossos
delitos e quebra de mandamentos para nos acusar. Paulo apresenta então o perdão
de nossos pecados e depois mostra a conquista contra os poderes malignos, dando
a entender, que na cruz Jesus enfrentou uma batalha cósmica. Na qual os poderes
das trevas o cercou e o atacou. Podemos ver isso no Getsemâni (Lc 22:53), mas
Jesus resistiu firmemente indo até o fim (Fl 2:8). Ele desarmou o diabo, pois
sua arma contra nós era a dívida que Jesus pagou, nisto consistiu a vitória
sobre o inimigo e a libertação dos cativos.
A confirmação da vitória
Muitos enxergam que a vitória não se deu na
cruz, mas na ressurreição de Jesus Cristo. Essa visão não é correta, pois a
vitória foi concretizada na cruz e na ressurreição, já que essa vitória é
proclamada e aquele domingo de manhã foi anunciada a conquista: “Ele ressuscitou”.
A cruz e a ressurreição devem andar juntas (Ap 1:18), pois a vitória é completa
quando ambas são efetivadas, mas a palavra é clara ao declarar que não foi
mediante a ressurreição, mas mediante a morte de Jesus que nossos pecados foram
desfeitos, a eficácia salvadora está na cruz de Cristo (1 Co 1:18).
A extensão da vitória
A missão da
igreja, é pregar o evangelho no poder do Espírito Santo, pregar a Cristo
como Senhor, e este crucificado! Convocando
o povo a se arrepender e crer nEle, e ao anunciar a vitória na cruz, os cativos
são libertos, salvos pela graça mediante a fé, levados “das trevas para a luz”
(At 26:18). Seria impossível por nós mesmos, lutarmos e derrotarmos o diabo. Isto
agora é até desnecessário por que Cristo já o fez na cruz, portanto a vitória
dos cristãos consiste em entrarem na vitória de Cristo e desfrutarem dos seus
benefícios. Deus nos dá a vitória por meio de Jesus Cristo que morreu na cruz,
mas ressuscitou e se assentou à direita do Pai e com Ele somos ressuscitados para
nos assentar com Ele nos lugares celestiais.
Com Ele somos livres e reinamos, porém o inimigo se
enfureceu ainda mais com o golpe fatal sofrido, e “anda rugindo como um leão
procurando alguém a quem possa tragar” (1 Pe 5:8).
O apóstolo
João afirma que “o Filho de Deus se manifestou para desfazer as obras do diabo”
(1 Jo 3:8), e segundo os escritores do novo testamento, essas obras são: a lei,
a carne, o mundo e a morte, quatro tiranias onde a lei escravizava, a carne
dominava, o mundo enganava e a morte reinava. A "antiga era" foi inaugurada em
Adão, e Cristo vem para inaugurar uma "era" caracterizada pela graça e não pela
lei, pelo Espirito e não pela carne, pela vontade de Deus e não pelas modas do
mundo, pela vida abundante e não pela morte!
A consumação da vitória
No livro de Apocalipse, uma das palavras de
maior ocorrência é o termo grego “nike”, que significa “vitória”; no mundo
antigo, Nike era a deusa da guerra, e neste livro profético João se refere a
Cristo como “nikon”, o grande vencedor, sendo este título transferido a todos
os guerreiros cristãos.
O centro do
livro; segundo Andrew Murray em seu livro “O poder do sangue”; parece ser o
capítulo 12, onde é mostrado uma mulher grávida que está prestes a dar a luz ao
que claramente é o messias. Essa mulher então representa a igreja do velho
testamento de quem o messias precedeu. Surge então um dragão identificado como
“a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás”, sua calda “arrasta uma terça
parte das estrelas do céu”, que no caso são os anjos caídos, e atacam a mulher
para devorar seu filho. Identificado como um rei que é arrebatado para o trono
de Deus, a mulher foge para o deserto, apontando a igreja sendo provada e preservada.
Logo ocorre uma guerra no céu onde o dragão e seus anjos são derrotados, e o
dragão é atirado na terra, e destronado das regiões celestiais. Pois Satanás
tinha acesso as reuniões celestiais como vemos no livro de Jó, onde ele acusa Deus
de não saber governar sobre o homem, o vemos com poder, mesmo que limitado pela
permissão e soberania divina; mas ele foi destronado pela morte Cristo na cruz,
com sua vitória e ascensão (Jo 12:31). Satanás então reage, levantando um
império na terra conhecido como “roma e babilônia”, perseguindo e enganando as
nações, principalmente a igreja de Cristo. Realizando alianças, através de
figuras representadas como “a besta, o falso profeta e a grande meretriz”. Que
farão guerra contra o Cordeiro, mas serão destruidos ao fim, dando inicio a um
novo tempo e a uma nova terra. Resumindo, a trajetória de Satanás é de quedas
consecutivas, primeiro do céu antes da criação, depois das regiões celestiais,
um nivel abaixo, quando Jesus o vence pela cruz e o destrona, agora Satanás
opera na esfera terrena e por fim será lançado no mais profundo abismo. Ao
contrário de Cristo e sua igreja, que são exaltados “de glória em glória”.
Mas como podemos
vencer aqui e agora com Cristo?
“Resistindo ao diabo” (Tg 4:7), “não dando lugar ao
diabo” (Ef 4:27), “Proclamando o evangelho de Jesus Cristo, convertendo pessoas
das trevas para a luz” (At 26:18). Satanás agora sabe que a cruz é o meio usado
por Deus para vencê-lo, então lutará para nos afastar da cruz a todo custo, ele
está como um dragão irado, “sabendo que lhe falta pouco tempo” (Ap 12:12). Portanto
“revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as
ciladas do diabo” (Ef 6:11). Vamos lutar contra todos os principados e potestades
do mal, usando as armaduras espirituais que Deus nos concede para essa guerra e
“o Deus da paz, esmagará Satanás debaixo dos vossos pés”(Rm 16:20).
Para mim, a cena
mais linda do Apocalipse é o casamento de Cristo com sua prometida e amada
esposa, a noiva do Cordeiro. Adornada perante seu noivo, essa noiva é a igreja
triunfante, que venceu “POR CAUSA DO SANGUE DO CORDEIRO” (Ap 12:11), vertido
naquela cruz.
Conclusão
Olhamos com
expectativa para a consumação dessa conquista, Jesus venceu e reina, mas ainda
aguarda até que seus inimigos sejam postos como estrado dos seus pés, e nesse
dia todo joelho se dobrará e toda a língua confessará que Ele é o Senhor. Então
o diabo será lançado definitivamente no lago de fogo, onde a morte e o inferno
o seguirão.