sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Sermão #15 Poder na Fraqueza








Sermão #15 
Poder na Fraqueza
Por Leandro B. Boer




Texto Base 1 Coríntios 2:2-5
 “Porquanto decidi nada saber entre vós, a não ser Jesus Cristo, e este, crucificado. E foi sob fraqueza, temor e grande tremor que estive entre vós. Minha mensagem e minha proclamação não se formaram de palavras persuasivas de conhecimento, mas constituíram-se em demonstração do poder do Espírito, para que a vossa fé não se fundamente em sabedoria humana, mas no poder de Deus.”


Introdução

  Vivemos em uma sociedade que adora o poder, e precisamente nesta área de cobiça e ambição que o homem caiu em Adão, essa busca por poder está na política, nos negócios, na vida social, profissional, familiar, em todas as áreas, inclusive nas denominações eclesiásticas existe uma sede pelo poder que chega até os púlpitos, um lugar extremamente perigoso para o ego humano. Por outro lado, existe uma busca por poder espiritual entre os crentes, mas por que queremos poder? Será que o buscamos realmente para sermos testemunhas e vivermos em santidade e humildade? Ou essa busca reflete um desejo egoísta de nos exaltar, impressionar, influenciar e até mesmo manipular os outros? O mundo usa o poder para controlar as pessoas, mas o próprio Jesus não só renunciou o poder humano como ensinou tal verdade: “Qualquer que entre vós quiser tornar-se grande, será esse o que vos sirva, e quem quiser ser o primeiro será o servo de todos” (Mc 10:43-44). O apóstolo Paulo mostrou essa oposição, ao proclamar um paradoxo: o verdadeiro poder está na fraqueza.

O Poder de Deus na fraqueza da mensagem

   A cruz ofende os homens, por que vai claramente contra suas ideias de méritos humanos, não há nenhum ser, que por natureza gosta de ser despojado de seus méritos, a cruz fere o orgulho dos homens, para os que perecem ela é ofensiva, pois nela, os nobres e sábios terão que estar ao lado de desprezados e miseráveis.  Deus tomou a iniciativa de salvar o pecador através da “loucura da pregação”, a filosofia e a sabedoria do mundo falharam, e o que era impossível à sabedoria do mundo, Deus o fez através da mensagem do Evangelho, “Pois a mensagem da cruz é loucura para os que estão sendo destruídos, porém para nós, que estamos sendo salvos, é o poder de Deus” (1 Co 1:18), com toda a sua fraqueza é pela cruz que Deus demonstra o seu poder. Os judeus esperavam sinais de poder e não Cristo crucificado e debaixo de maldição, isso se tornou escândalo e um tropeço para suas expectativas de um poderoso líder. Os gregos, por sua vez, esperavam demonstrações de sabedoria e lógica humana, a cruz era então uma loucura total, os próprios cidadãos romanos eram contrários à execução na cruz por considerarem-na desumana, o orador romano Cícero incentivava todos a sequer citar a palavra “cruz”; mas ao contrário de tudo isso, Deus fez da cruz o meio para mostrar sua sabedoria e poder, “Cristo é o poder e sabedoria de Deus, por que a insensatez de Deus é mais sábia que a sabedoria humana, e a fraqueza de Deus é mais forte que o poder dos homens” (1 Co 1:24b-25).
  A cruz continua sendo uma pedra de tropeço para essa geração moderna que adora o poder humano, que confia em sua sabedoria e justiça própria, para eles a expiação vicária de Cristo é absurda, mas para aqueles a quem Deus chamou, não é loucura e escândalo, mas é o poder de Deus, porque nela Deus fez possível a nossa salvação, ela é nossa fonte de reconciliação, a chave que nos liberta da escravidão do pecado, do egocentrismo, e nos leva a uma nova vida de santidade, a cruz é a sabedoria de Deus, por que nela Ele pôde ser ao mesmo tempo o justo e justificador, demonstrando seu amor e sua justiça.

O Poder de Deus na fraqueza do mensageiro

  O mundo prega: “confie em si mesmo”, e muitos pregadores acabam seguindo isto, o filósofo Nietszche propunha um mundo dominado por homens poderosos, seu ideal era o “super homem”, e um mundo sem lugar para seres débeis e fracos, Nietszche adorava o poder e depreciava Jesus Cristo pela sua fraqueza, ao contrário do filósofo, Jesus usou uma frágil criança como modelo, ensinando que a fragilidade humana é o terreno na qual Deus manifesta seu poder, Paulo mostrava sua fraqueza, vulnerabilidade e admitia seus medos, “estive entre vocês sob fraqueza, temor e tremor” disse aos coríntios onde muitos haviam se levantado contra ele e seu ministério, minando sua reputação, acusaram-no de não ser completamente judeu, que não merecia o título de apóstolo, pois não havia seguido Jesus em seu ministério terreno, acusaram-no de ser um falso profeta, interessado em dinheiro, e ele, mesmo relutante, se defende através de uma lista referencial, declarando-se judeu da tribo de Benjamim, fariseu, ex-aluno do grande mestre Gamaliel, era apóstolo com chamado do próprio Cristo ressurreto, se sustentava para evitar receber dinheiro da igreja, e aliado a tudo isso, enumera uma lista impressionante, de açoites, encarceramentos, insultos e dificuldades. O grande missionário Hudson Taylor dizia: “Todos os gigantes usados por Deus foram e são pessoas fracas”. Hoje parece não haver espaço na igreja para dizer: “Eu sou fraco”, mas Paulo foi além ao referir-se a si mesmo como “refugo e escória”, mesmo na época dos grandes apóstolos ele reconhecia sua fraqueza, recusava-se a usar sua própria sabedoria ou retórica e pregava Cristo crucificado, confiando no poder de Deus, ele disse com certa ironia: “Tenho para mim, que Deus nos pôs, apóstolos, por últimos, como condenados à morte, somos feitos espetáculos ao mundo, tanto a anjos como a homens. Nós somos loucos por amor de Cristo, e vós sábios em Cristo, nós fracos, e vós fortes, vós ilustres, e nós desprezíveis. Até o presente momento, padecemos fome, sede, estamos nus, e recebemos bofetadas, não temos pousada certa e nos afadigamos, trabalhando com nossas próprias mãos, somos injuriados e bendizemos, somos perseguidos e os suportamos, somos difamados e exortamos, até o presente somos considerados como refugo do mundo e como a escória de tudo.” (1 Co 4:9-13).
  O Espírito Santo trabalha no território da fraqueza humana, não que devamos simular fraqueza ou reprimir nossa personalidade, mas devemos reconhecer nossa dependência, que o poder não é nosso, que não podemos contribuir em nada que é nosso, nada em nós, somente o Espírito Santo para convencer e salvar. “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não da nossa parte” (2 Co 4:7), não podemos nos esquecer que somos pó, levantados pelo sopro de Deus, somos vasos de barro moldados nas mãos do oleiro, e é maravilhoso saber que mesmo com toda a nossa fragilidade, Deus nos escolheu para colocar os seus tesouros.

O Poder de Deus na fraqueza dos chamados

  Ninguém que se acha forte ou autossuficiente aceitará a mensagem da cruz, “Deus escolheu as coisas loucas do mundo para confundir os sábios, e Deus escolheu as coisas fracas do mundo para confundir as fortes, e Deus escolheu as coisas ignóbeis do mundo, e as desprezadas, e as que não são para reduzir a nada as que são” (1 Co 1:27-28), somente os fracos aceitam o evangelho,a igreja é lugar de fracos, Deus salva ricos e sábios, Paulo era sábio, seu discípulo Gaio era um homem muito rico, mas se alguém que é forte do ponto de vista humano quiser ser alcançado e salvo, deverá estar disposto a se tornar fraco, Paulo era instruído, tinha autoridade, mas teve que reconhecer sua fraqueza, ao ficar cego e ter que aprender com um simples homem idoso chamado Ananias.  
  Deus transforma a nossa fraqueza em poder, “Por que apesar de ter sido crucificado em fraqueza, Cristo vive, e isso pelo poder de Deus. Semelhantemente, somos fracos Nele, mas pelo poder de Deus viveremos com Ele para vos servir” (2 Co 13:4), Deus nos chamou para servir, “Que os homens nos considerem, pois, como servos de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus” (1 Co 4:1), o poder de Deus é dado aos servos, Paulo usa o termo grego “opereta”, com qual eram conhecidos os remadores que ficavam no nível mais baixo dos grandes barcos antigos, o barco navegava e eles não apareciam. Deus escolheu salvar os pecadores, fracos, desprezados, por que todo o crédito da salvação pertence a Ele, na história vemos Deus usando pessoas fracas e as transformando em gigantes, como Moisés, Davi, José, Gideão, Pedro, Tiago e João, quando Deus quer usar alguém forte como Paulo, Ele humilha-o, para então exaltar (1 Pe 5:6), deve haver um auto esvaziamento: “Mas o que para mim era lucro, passei a considerar como perda por causa de Cristo. Mais do que isso, considero como perda, tudo, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para ganhar a Cristo” (Fp 3:7-8).

O Poder de Deus aperfeiçoado na fraqueza

  O apóstolo Paulo se sentia constantemente afligido por um “espinho na carne”, e orou três vezes para Deus removê-lo, ao que o Senhor o respondeu: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12:9), então surpreendentemente Paulo declara: “Por isso de boa vontade, antes, me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte” (2 Co 12:10), Paulo começou a não apenas tolerar, mas transformar suas fraquezas no lugar onde adquiria poder de Deus, reverteu o espinho em benção, e como alcançou este nível? Através da revelação de Jesus Cristo, onde “o poder se aperfeiçoava na fraqueza”, através da cruz e da humilhação, “Cristo esvaziou-se a si mesmo, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens, e na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até a morte e morte de cruz. Pelo que Deus o exaltou sobremaneira.” (Fp 2:7-9), se a cruz foi o meio para atingir a glória, na qual Cristo venceu, Paulo enxergou no espinho um meio para se refugiar em Cristo.
  A bíblia não revela qual seria esse espinho na carne de Paulo, mas mostra que aquela fraqueza foi permitida para manter Paulo dependente e humilde perante Deus, mas como pode um espinho doloroso causar um bem? Como pode uma fraqueza me causar deleite? O que seria esse espinho? Podemos dizer que é algo que causa dor e não conseguimos remover, e às vezes a solução de Deus não é removê-lo, mas preencher a ferida com seu poder, a benção não veio diretamente do espinho, mas do que ele provocou. Creio que todos nós possuímos espinhos na vida, internos e externos, uma luta pessoal, e nesta hora, se torna um alívio depender de uma força que não é nossa para vencer, “o Espírito nos assiste em nossa fraqueza” (Rm 8:26), os heróis da fé “da fraqueza tiraram forças” (Hb 11:34), nós buscamos uma vida confortável e somente diante dos espinhos aprendemos que somos fracos, e que a solução é se humilhar perante Deus e confiar Nele, em seu poder, em sua força, declarando: “Tudo posso, naquele que me fortalece” (Fp 4:13).

Conclusão


Temos, então, uma mensagem que expressa fraqueza pela cruz, proclamada por pregadores fracos e cheios de temor e recebida por pessoas fracas e desprezadas pelo mundo, Jesus é a imagem que reflete o principio do poder pela fraqueza, pois Ele se esvaziou e o diabo lhe ofereceu poder, mas Ele tomou a cruz, a expressão máxima de humilhação e provou a morte, o maior sinal da fraqueza humana, mas eis que essa imagem de fraqueza é vista até no céu: “João viu no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, em pé, um Cordeiro que parecia estar morto” (Ap 5:6), vejam essa imagem que reflete a total fraqueza entronizada, um cordeiro “como que imolado” no meio do trono da Glória. Aleluia! A fraqueza no poder, e diante do trono depositarão coroas aos seus pés (Ap 4:10) e proclamarão: “Tu és digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o PODER”