terça-feira, 11 de julho de 2017

Sermão #6 Eu Sou a luz do mundo


 

Série de Sermões 
O Evangelho segundo João
Sermão #6
Eu Sou a luz do mundo
Por Leandro Boer

Texto Base: “Falando novamente ao povo, Jesus disse: ‘Eu sou a luz do mundo’; Quem me segue, nunca andará em trevas, mas terá a luz da vida”.
(João 8:12)

Introdução
  Continuando a nossa série de mensagens no Evangelho segundo João, em João capítulo 6, Jesus faz sua primeira declaração, de um total de sete, utilizando o termo divino “Eu Sou”, dizendo: “Eu Sou o Pão da Vida, o que vem a mim jamais terá fome, e o que crê em mim, jamais terá sede” (Jo 6:35), e junto a essa declaração de reivindicação divina, Ele realiza o primeiro milagre, também de um total de sete no evangelho de João, multiplicando os pães e peixes, como sinal para comprovar as suas palavras.
 Nesta mensagem, meditaremos em sua segunda declaração, onde Jesus afirma: “Eu Sou a Luz do mundo”. Logo em seguida Ele comprova esta verdade, curando um homem cego de nascença no capítulo 9. Mostrando que Ele veio para abrir os nossos olhos, da nossa cegueira espiritual e iluminar a nossa mente obscurecida pelo pecado. Pois “Ele é a verdadeira luz, que vinda ao mundo, ilumina a todo homem” (Jo 1:9), Jesus Cristo é a fonte de luz que no princípio da criação decretou: “Haja luz” (Gn 1:3).

Rios de águas vivas
  Jesus estava em Jerusalém na Festa dos Tabernáculos que durava oito dias, celebrando a graciosa provisão dada por Deus aos israelitas durante os quarenta anos no deserto.
A festa era realizada ao término da colheita anual, havia um cerimonial de águas correntes, para lembrar a água que brotou da rocha e saciou o povo no deserto.
Os sacerdotes marchavam pela cidade em procissão carregando vasos dourados do templo, cantando Salmos 113 ao 118 acompanhados de címbalos e trombetas, e enchiam esses vasos com água do tanque de Siloé e no último dia da festa eles derramavam essas águas no altar e essas desciam as escadarias do templo.
  No último e grande dia da festa, Jesus se apresenta como a verdadeira “rocha ferida” (1 Co 10:4), e declara: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a escritura, do seu interior fluirão rios de águas vivas” (Jo 7:37-38).
 O povo no deserto matou a sua sede na água da rocha ferida por Moisés, e Cristo foi ferido na cruz do Calvário onde liberou água do seu lado, referindo-se ao Espírito Santo que Ele derramaria sobre os sedentos.
 Uma grande discussão começou na cidade entre os fariseus que reprovavam Jesus e os judeus que passaram a crer em suas palavras.

Luz do mundo
  O capítulo 8 de João nos informa que Jesus ficou a noite toda orando no Monte das Oliveiras, desse monte era possível contemplar um grande candelabro aceso no templo durante as noites de festa dos tabernáculos. Os judeus caminhando na cidade com suas lâmpadas nas mãos, remetendo à coluna de fogo que aquecia os israelitas no deserto, naquela mesma noite as luzes da festa se apagaram enquanto Jesus orava no monte.
 Pela manhã Jesus foi direto ao templo e enquanto ensinava a palavra, os religiosos surgiram com uma mulher apanhada em adultério. Ela foi jogada aos pés de Jesus para ser julgada segundo a lei, onde dizia que ela deveria ser apedrejada. Mas o Mestre mostra o evangelho da graça: “Aquele que não tem pecado, seja o primeiro a atirar a pedra contra ela” (Jo 8:7).
 Todos se sentem acusados em suas consciências e a mulher então é liberta. O único que não tinha pecado na multidão era Jesus, que lhe diz: “eu não te condeno, vai e não peques mais” (Jo 8:11). Aquela mulher que estava nas trevas do pecado, encontra a luz.
Enquanto todos se perguntavam quem era aquele homem, Jesus então decide declarar mais uma faceta de sua identidade: “Eu Sou a Luz do mundo, quem me segue não andará em trevas, pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo 8:12).
  O termo “phos” que Jesus usou para luz, era muito conhecido de todos que o ouvia, e significava “tornar a verdade manifesta”. Aos fariseus que começaram a questiona-lo, Jesus diz: “conhecereis a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8:32).
Essa luz não apenas revela e liberta, mas Jesus se apresenta como a luz que “dá a vida”, assim como os raios do Sol que realizam o processo de fotossíntese dando vida as plantas, à luz de Cristo brilha em nossos corações dissipando as trevas, para “andarmos na luz”, pois Jesus disse: “vós sois a luz do mundo” (Mt 5:13).

Eu Sou
  Os fariseus começaram novamente a desacreditar de suas palavras, alegando que Ele testemunhava de si mesmo, ao que Jesus disse: “Na lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro; Eu testifico de mim mesmo e o Pai que me enviou também testifica de mim” (Jo 8:17-18).
 Os fariseus entenderam mal a reivindicação de Jesus, pois pensaram que Ele se referia ao seu pai terreno; aquela cegueira dos fariseus em relação a Jesus mostra que eles conheciam a lei, mas não tinham o conhecimento de Deus. Então Cristo sentencia o fim deles e de grande parte da humanidade: “Se não credes que ‘Eu Sou’, morrereis em vossos pecados” (Jo 8:24), e Jesus continuou a profetizar: “Quando levantardes os Filho do homem, então sabereis que ‘Eu Sou’, e que nada faço por mim mesmo, mas falo o que o Pai me ensinou” (Jo 8:28), ao anunciar essa mensagem da cruz, “muitos creram” (Jo 8:30).
  Os fariseus acirraram a discussão em torno da filiação de Jesus, dizendo: “Somos filhos de Abraão... não somos bastardos” (Jo 8:39,41), sugerindo sarcasticamente que Jesus era filho ilegítimo, ao que o Mestre revela que eles estavam nas trevas da ignorância e do erro, dizendo: “Vós sois filhos do diabo” (Jo 8:44), por causa das mentiras que afirmavam. Nisso os fariseus blasfemaram e disseram que Jesus estava possuído por demônios.
 Jesus decide aumentar o nível de revelação e diz: “Se alguém guardar a minha palavra, não provará a morte eternamente” (Jo 8:51), estendendo sua promessa para além da vida terrena e reivindicando novamente a sua estatura divina. Ao que os fariseus reagiram apelando para a figura patriarcal do “pai da fé”: “És maior que o nosso pai Abraão, que morreu?”, e Jesus encerra a discussão com a sua maior declaração afirmando sua divindade: “Em verdade, em verdade, antes que Abraão existisse, Eu Sou”; ao dizer isso Jesus quase foi apedrejado no templo, então se ocultou por um tempo, mas voltaria para provar as suas palavras naquele mesmo dia.

O cego de nascença
  Caminhado pela cidade naquele dia de sábado junto de seus discípulos, Jesus parou em frente a um homem que estava no chão, um cego de nascença conhecido na cidade. Aquele homem nasceu cego, cresceu cego, não sabia ler ou escrever, tinha sua família, mas era considerado um inútil pela sociedade judaica. Que o apontava como sendo castigado por seus pecados e os pecados de seus antepassados. Existia a chamada “maldição hereditária” entre eles, que julgavam as pessoas que tinham qualquer tipo de doença.
  Jesus enxergou aquele homem, algo que a multidão ignorava, enxergou sua vida na escuridão, enquanto todos enxergavam apenas seus pecados, os próprios discípulos utilizaram o olhar de julgamento: “Rabi, quem pecou, este ou seus pais para que nascesse cego?” (Jo 9:2).
 Jesus o tratou na sua individualidade e na sua necessidade, respondendo: “Nem ele pecou, nem seus pais, mas foi assim para que se manifestassem nele, as obras de Deus” (Jo 9:3). Cristo veio para mostrar a nossa cegueira espiritual, para mostrar que “Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” (Rm 3:23), acabamos herdando o pecado de Adão para que em nós se manifestassem as obras de Deus.
  Surpreendentemente, Jesus cuspiu na terra, e tendo feito lodo com sua saliva, aplicou nos olhos do cego, e disse: “Vai-te ao tanque de Siloé”, aquele homem conhecia bem o caminho mesmo sendo cego, mas naquele dia deve ter tropeçado ou quase se perdido, tamanha a pressa de se lavar, e quando chegou ao tanque e se lavou, começou a enxergar pela primeira vez na sua vida.
 Deus transformou suas trevas em luz (Sl 18:28), e enquanto glorificava a Deus o cercaram para perguntar: “Como os teus olhos foram abertos?”, ao que ele sorrindo respondeu: “Foi o homem chamado Jesus” (Jo 9:11).

Sujeira nos olhos
  Muito se discute sobre a necessidade do “lodo” que Jesus fez com sua própria saliva. Enquanto meditava nessa palavra o Espírito Santo me revelou algo muito simples de se entender: aquele lodo representa a sujeira que nos impede de enxergar, é o pecado que cegou os nossos olhos espirituais, e que necessitam do “lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt 3:5).
Neste caso foi representado pelas águas do tanque de Siloé, mostrando a necessidade de se lavar e se purificar do pecado; o barro produzido pelas mãos de Jesus aponta para nossa fragilidade e dependência de Deus porque viemos do “pó da terra”, fomos moldados pelas mãos do próprio Deus.
 Por outro lado, Jesus queria atingir os fariseus com aquele ato, pois não queriam enxergar a verdade por causa da sujeira que havia em seus corações, esta verdade é em relação ao agir do diabo no mundo espiritual, da qual o apóstolo Paulo adverte: “O deus deste século, cegou o entendimento dos incrédulos, a fim de que não vejam a luz do Evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2 Co 4:4).
  Aquele que fora cego, por ter sido curado em um dia de sábado, pois na lei não deveriam fazer nenhum tipo de trabalho, o levaram ao templo a fim de interrogá-lo, pois queriam provas contra Jesus de alguma forma. Mas aquele homem estava tão convicto, que mesmo correndo risco de morte perante os implacáveis fariseus, testemunhou o seu milagre diante do povo e das autoridades, declarando ainda que Jesus era um enviado de Deus: “Sabemos há muito tempo, desde que há mundo, jamais se ouviu, que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença; se este homem não fosse de Deus, nada poderia ter feito” (Jo 9:34).
 Os fariseus, cegos de entendimento espiritual, ficaram tão contrariados que o expulsaram do templo.

A face de Cristo
  Fora do templo, o homem curado deve ter procurado Jesus por todos os lados, aquele que o libertou das trevas merecia um abraço de agradecimento, mas o próprio Jesus decidiu se encontrar com aquele que fora cego, e olhando nos seus olhos lhe perguntou: “Crês tu no Filho do Homem?”, ele então disse: “Quem é Senhor, para que eu nele creia?”, e Jesus respondeu: “Você o está vendo agora, é o que fala contigo”, o homem se ajoelhou aos pés de Jesus e disse: “Creio Senhor, e o adorou” (Jo 9:35-38), por que reconheceu que Ele não era um homem comum a ser abraçado, mas o próprio Deus que deveria ser adorado.
  Naquele dia, aquele que nasceu cego, contemplou a Glória de Deus na face de Jesus, seus olhos abriram e seu coração recebeu a luz do amor de Deus. Como Paulo diz: “Porquanto foi Deus quem ordenou; ’Das trevas resplandeça a luz! ’, pois Ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2 Co 4:6).

Conclusão
  Jesus veio ao mundo para abrir os nossos olhos, e devemos pedir a Ele que remova toda a sujeira que nos impede de enxergar a sua face, infelizmente muitos permanecem perdidos nas trevas, cegos espiritualmente, mesmo com a verdade em sua frente. A respeito desses, Jesus profetizou: “Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam, e os que veem se tornem cegos” (Jo 9:39).

 Que uma vez iluminados pela luz do Evangelho da Glória de Deus, possamos ser “luz do mundo” (Mt 5:13), declarando: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? (Sl 27:1), e levar essa luz ao mundo que jaz nas trevas e no medo, pois “Deus é luz e Nele não há trevas alguma, se dissermos que temos comunhão com Ele e andarmos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade, se porém,andarmos na luz, como Ele está na luz, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus nos purifica de todo o pecado” (1 Jo 1:5-7).
“No céu, não haverá noite, nem necessitarão das luzes do candeeiro, nem da luz do Sol, pois o Senhor os iluminará, e eles reinarão para todo o sempre” (Ap 22:5).