segunda-feira, 17 de abril de 2017

Sermão #4 Eu Sou o Pão da Vida








Série de Sermões
Evangelho Segundo João

Sermão #4 Eu Sou o Pão da Vida
Por Leandro Boer


Texto Base Jo 6:35
 “Declarou-lhes, pois, Jesus: EU SOU o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome, e o que crê em mim jamais terá sede.”

Introdução

  As três maiores necessidades do corpo humano são: o ar, a água e o alimento. O homem pode viver alguns minutos sem o ar, pode sobreviver uma semana sem a água e cerca de quarenta dias sem o alimento, e no evangelho segundo João, Jesus promete satisfazer essas três necessidades de forma espiritual, no terceiro capítulo Ele fala do fôlego ou vento do Espírito, sem a qual o homem não pode nascer de novo e ter vida eterna; no quarto capítulo Jesus falou a mulher samaritana sobre a água viva pela qual ela poderia ter a plena satisfação e viver para sempre; e no sexto capítulo, Ele se apresenta como o alimento para satisfazer a fome mais profunda da humanidade, a fome espiritual, da qual somente Jesus pode saciar.
  Este é o primeiro texto de um total de sete, onde vamos expor as sete declarações de Jesus no evangelho segundo João, onde Ele diz: EU SOU; e a sua primeira declaração foi: EU SOU o Pão da Vida, e João nos mostra algo maravilhoso aliado a essas sete declarações, o seu evangelho contém sete sinais, ou milagres chaves, para provar as sete declarações, veremos que ao dizer “Eu Sou o Pão da Vida”, Ele comprovou suas palavras ao multiplicar os pães e peixes; ao dizer Eu Sou a Luz do mundo, Ele curou um cego de nascença; ao declarar Eu Sou a Ressurreição e a Vida, Jesus ressuscitou a Lázaro, e assim por diante.
  Eu não sei onde você se encontra lendo este texto, mas que este lugar se transforme em uma sarça ardente e Deus se revele de uma maneira poderosa a você, na pessoa de Jesus Cristo se apresentando como o grande Eu Sou.

Filho De Deus

  O propósito de evangelho de João é revelar Deus na pessoa de Jesus Cristo, gerando a fé salvífica no Filho de Deus (Jo 3:18), ao aplicar a sua justiça e o seu amor sacrifical para conosco na cruz; Jesus, portanto, morreu por amor, para cumprir com o propósito eterno de Deus, mas por que os homens decidiram matá-lo? A sua sentença de morte é pronunciada em João 19:7: “Segundo a lei, ele deve morrer, por que a si mesmo se fez Filho de Deus”. Jesus foi morto por declarar a sua divindade, isto é muito claro no evangelho, primeiramente por tratar Deus como seu “Pai”, reivindicando uma relação íntima, de unidade com Deus; Ele disse a Maria Madalena, “Subo para meu Pai e vosso Pai”, indicando que não era possível colocar a relação no mesmo nível, se fosse assim, Ele teria dito: “Subo para o nosso Pai”. Ele também interpretou a sua missão a luz da figura do servo sofredor, descrito na parte final do livro de Isaías, quando disse na sinagoga de Nazaré: “O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, por que o Senhor me ungiu para pregar boas novas aos mansos, enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos cativos” (Is 61:1/ ver Lc 4:17-21); o próprio Simão Pedro foi usado pelo Espírito Santo para confessar Jesus como o Cristo, o messias tão aguardado (Mt 16:16).
  Jesus assumiu o título de “Filho do Homem”, preferindo referir-se a si mesmo com este título messiânico, derivado originalmente de uma das visões do profeta Daniel, mas aceitou ser reconhecido como o “Filho de Deus”; também um título messiânico extraído do Salmos 2:7. Quando Jesus foi desafiado pelo sumo sacerdote, que lhe perguntou em seu julgamento: “Conjuro-te pelo Deus vivo, que nos diga se tu és o Cristo, o Filho de Deus”, Jesus lhe respondeu: “EU SOU, e vereis o Filho do Homem assentado a direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu” (Mt 26:62-63), o interessante é que Jesus confirma sua natureza divina e humana em sua resposta.

Eu Sou

  No final do capítulo oito do evangelho de João, Jesus fez uma declaração muito direta e explícita de sua divindade, em uma controvérsia com os judeus, eles exclamaram: “És maior do que o nosso pai Abraão?”, e Jesus respondeu: “Vosso pai Abraão alegrou-se por ver o meu dia”, e os judeus ficaram mais perplexos: “Ainda não tens cinquenta anos e viste a Abraão?”, ao que Jesus foi ousado: “Em verdade, em verdade vos digo: Antes que Abraão existisse, EU SOU” (Jo 8:58), ao que apanharam pedras para apedrejá-lo. A lei de Moisés estabelecia o apedrejamento como punição para blasfêmia; a primeira vista alguém poderia se perguntar o que havia de blasfemo nas palavras de Jesus? Vemos que Ele afirmou sim ter vivido antes de Abraão, aliás, dizia com frequência que havia “descido do céu”, que era “enviado” pelo Pai, mas afirmações deste tipo foram toleradas, mas quando Ele disse “EU SOU”, declarou mais do que sua eternidade, afirmou a sua divindade, pois “EU SOU” é o título divino pelo qual Deus se revelou a Moisés na sarça ardente (Ex 3:14), quando Jesus tomou para si este título divino, os judeus consideraram uma afronta passível de morte.
  Além das declarações diretas e explicitas, Jesus afirmava a sua divindade indiretamente, através do ato de perdoar pecados, quando concedia “vida” as pessoas, ao ensinar a “verdade” e ao anunciar o “julgamento” ao mundo. Jesus não ficava apenas nas palavras, que já seriam suficientes, pois o poder está nas palavras, mas dramatizava suas declarações através dos “sinais”, milagres que Ele realizava para comprovar suas palavras; os milagres nunca foram para chamar a atenção ou realizados como exibição de poder, mas podemos dizer que eram representações visuais de suas palavras. A declaração “Eu Sou”, é vista vinte e três vezes nos evangelhos, João nos apresenta sete delas, relacionando-as aos sete sinais de seu evangelho.

O Pão da Vida

Em João 6, Jesus realiza o milagre da multiplicação dos pães e peixes, Jesus usa um jovenzinho com cinco pães e dois peixinhos para abençoar o povo, com o pouco que tinha Ele alimentou mais de cinco mil pessoas famintas, que ficaram saciadas e ainda sobraram doze cestos cheios de pães. Demonstrando assim o seu amor e preocupação com o povo e levantando pessoas para usar em sua obra. No outro dia, a multidão retornou ao Senhor, ansiosa por outra demonstração de poder que os beneficiaria, e Jesus sabia que eles estavam interessados apenas no material, em suas necessidades imediatas, eles não estavam satisfeitos, portanto não possuíam a satisfação verdadeira em suas almas, então Jesus resolve oferecer o alimento que supriria e os satisfaria pela vida eterna, assim como Ele tinha dado a água viva para suprir a sede espiritual da samaritana que buscava água no poço, Ele declara para a multidão: “Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna” (Jo 6:27), o povo então, acostumado a viver pelas obras, pergunta que obras fazer para adquirir aquele alimento, ao que Jesus apresenta a salvação pela graça mediante a fé, respondendo: “A obra de Deus é crer naquele que Ele enviou” (Jo 6:29), eles então pediram um sinal para crer nas palavras de Jesus, mas assim como os pais deles viram e comeram o “maná”, considerado o “pão do céu” que descia no deserto, da mesma forma, eles ainda digeriam os pães da multiplicação em seus estômagos e continuavam incrédulos, insatisfeitos e logo estariam murmurando como o povo que morreu no deserto sem entrar na terra prometida.
  O maná, apesar de ser fruto da provisão divina, era um alimento natural, que durante quarenta anos sustentou Israel no deserto; toda a manhã o povo recolhia uma espécie de pão que caia do céu e forrava o deserto como orvalho, e para que as gerações futuras tivessem uma prova daquele sustento milagroso, Deus ordenou a Moisés que enchesse um pote de ouro com um “gômer” do maná, cerca de 3,7 litros, e enquanto o maná que não era comido logo apodrecia, milagrosamente o maná colocado dentro do pote de ouro e posteriormente colocado dentro da Arca da Aliança, este não se estragava (Ex 16:33-35), apontando para o verdadeiro maná espiritual que não perece.
   Jesus então declara: “Na verdade, na verdade vos digo: Moisés não vos deu o pão do céu, mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu” (Jo 6:32), o povo entendeu que assim como tinham comido do pão da multiplicação, Jesus poderia dar esse pão do céu para eles pegarem nas mãos e comerem, começaram a clamar : “Dá-nos sempre desse pão” (Jo 6:31), ao que Jesus bradou: “Eu Sou o Pão da Vida, aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede” (Jo 6:35).

Partindo o pão

  No oriente, o pão, na sua forma mais simples, feito de farinha de trigo, era o principal e mais básico alimento do povo, não era como hoje, usado apenas no café da manhã, mas era visto em todas as refeições que faziam, o próprio termo “pão” se tornou sinônimo de comida em geral, em Gênesis 3:19, Deus disse a Adão: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão”; no sermão da montanha, Jesus ensinou a orar pedindo “o pão nosso de cada dia” (Mt 6:11), revelando a nossa necessidade diária e constante não somente do pão que alimenta o corpo físico, mas do pão que alimenta o corpo espiritual.
   Jesus nasceu em Belém, que significa “casa do pão”, na região havia uma vasta plantação de trigo, elemento principal do pão, o próprio Jesus se comparou ao “grão de trigo, que caindo na terra, deve morrer para produzir frutos” (Jo 12:24). Antes de ser comido, existe um processo na preparação do pão, a sua massa é golpeada e amassada, e depois vai para o fogo, em Israel faziam os pães asmos, que não tinham fermento, O “Pão da Vida” foi golpeado, amassado, “ao Senhor agradou môe-lo” (Is 53:10), tomou o fermento do nosso pecado e enfrentou o fogo da ira divina na cruz, o pão do céu foi rasgado no Calvário.
  Hoje, a igreja se reúne para cear, e “comer a sua carne e beber o seu sangue”, já que em sua encarnação, Jesus se tornou carne, e em sua morte na cruz, o seu sangue foi vertido, comer a carne e beber do sangue, representa se apropriar pela fé, daquilo que sua vida e sua morte nos tornou possível, a vida eterna.

Rejeitando o pão

  Os judeus começaram a murmurar e dizer: “Não é este Jesus, filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos, como, pois diz ele, ‘Desci do céu’?” (Jo 6:42), ao que Jesus disse: “Na verdade, na verdade vos digo, que se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos; Quem come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia; por que a minha carne verdadeiramente é comida e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e Eu nele” (Jo 6:53-56), essas palavras foram tão fortes que a multidão e muitos dos seus discípulos, começaram a dizer: “Dura é esta mensagem, quem pode ouvi-la, quem pode suporta-la?” (Jo 6:60). Naquele dia, a multidão se retirou e muitos dos seus discípulos abandonaram a Cristo, então Jesus falou aos doze: “Quereis vós também se retirar?”
     No mundo atual o que vale é agradar a todos, o importante é que todos saiam satisfeitos, ofender a alguém, não se pode, contrariar as opiniões e os pensamentos dos outros, não se deve; mas um dia, um homem chamado Jesus, contrariando os pensamentos e as opiniões da maioria se apresentou e disse algo que fez com que muitos se sentissem ofendidos e escandalizados, Ele disse: "Eu sou o caminho, eu sou a verdade e a vida", Ele disse" Ninguém vai ao Pai a não ser por mim, a não ser através de mim." (João 14:6), Ele disse: “Eu sou o pão da vida, o pão que dá a vida, o pão que desceu do céu." (João 6:48-51).
   Ele disse ser o filho de Deus e dizendo isto foi mais chocante, Ele disse ser Deus (João 14:9-11) , portanto todos deveriam se submeter a Ele e ao seu senhorio, deveriam se arrepender de uma vida rebelde e se dedicar por inteiro a Ele e somente a Ele. (Efésios 1:20-22). Como disse o Pastor Juliano Son, em uma de suas pregações: “Ele foi crucificado porque ofendeu muita, mas muita gente”; Jesus foi crucificado porque muitos se sentiram ofendidos, muitos se sentiram contrariados, muitos discípulos o abandonaram porque Jesus não era como eles queriam que Ele fosse, muitos discípulos, por acharem duras e ofensivas demais as palavras do Senhor, por causa dessas palavras, deixaram de seguir o Senhor, rejeitaram o Pão da Vida.
  E hoje também, existem aqueles que não seguem ao Senhor porque  o que Ele diz parece ser duro demais, escandaloso demais; estes não querem compromisso algum de verdade, e parecem dizer: "Olha Jesus, se eu tiver que ir além e se você me disser algo que contraria a minha opinião, eu tô fora, tudo bem?"
   Mas o Senhor não se mostrou nem um pouco abalado com a deserção de muitos, Ele não disse: "Não, por favor não me abandonem, Ok, eu mudo o conteúdo. Eu exagerei um pouco, eu admito, eu vou pegar mais leve, eu prometo". Não, Ele não se abalou, Ele ainda se virou aos doze discípulos, os que eram verdadeiramente os seus discípulos e disse: "E vocês? Vocês não querem ir embora não?" (João 6:67), Pedro então se levantou cheio da graça e do conhecimento de Deus, e disse: "Para onde iremos? Para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna." (João 6:68-69).
  
Comendo o Pão

    O diabo tentou Jesus a transformar pedras em pães, após 40 dias de jejum, ao que Jesus respondeu: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4:4), semelhantemente, Israel ficou 40 anos no deserto sendo provada, mas diferente do povo que se alimentava de um Maná físico, Jesus ensina que o nosso alimento é a palavra de Deus, que gera vida e vida com abundância.
  O lado prático da mensagem de Jesus como o Pão de Deus, é que essa satisfação não deve ser simplesmente para o nosso alívio pessoal e individual, ao dizer: “Daí-lhes de comer”, Jesus revela que não devemos nos alimentar sozinhos, mas sermos instrumentos para repartir desse pão com aqueles que como nós, estão com “fome e sede de justiça”.
  Em Mateus 15, uma mulher Cananéia perseguiu Jesus e insistiu rogando por sua filha que estava terrivelmente endemoninhada, ao que Jesus surpreendentemente respondeu: “Não é bom tomar o pão dos filhos e lança-los aos cachorrinhos”, provavelmente Jesus se utilizou de um termo que os judeus usavam para se referir aos gentios como “cães”, e Jesus não foi meramente irônico, mas queria ensinar algo aos seus discípulos que pediram para ele desprezar e despedir aquela pobre mulher que estava faminta e pedindo pelo “pão da vida”, Jesus conhecia a fé daquela mulher; ela lhe respondeu: “os cachorrinhos comem das migalhas que os seus donos deixam cair da mesa”, aquela mulher estava dizendo: “EU ACEITO AS MIGALHAS”, a filha dela foi curada e Jesus disse: “Mulher, grande é a tua fé”.
  Na ceia do Senhor, simbolicamente, você toma uma migalha do pão para comer, e semelhantemente uma simples “migalha” do Pão da Vida, pode nos proporcionar algo além da nossa limitada compreensão e expectativas, além das nossas capacidades finitas, pois o poder desse pão é infinito, ao se alimentar dele, somos saciados eternamente. Eu creio que um dia, no céu, serei servido na mesa do Senhor, pelo próprio Senhor, com um pão que não perece, com um Maná celestial que está escondido dentro da Arca da Aliança, esta é uma promessa de Deus aos vitoriosos com Cristo (Ap 2:17).

Conclusão

  “Bem-aventurados os que não se escandalizam com a palavra do Senhor! Felizes são aqueles que encontram doçura em suas palavras porque elas são vida em eternidade. Na verdade, a dureza não está nas palavras do Senhor, mas nos corações daqueles que a ouvem, não é a palavra que é amarga, mas é a boca que experimenta que está cheia de amargura; e com as suas palavras o Senhor, na verdade, separa aqueles que são daqueles que não são seus verdadeiros seguidores.
  Enquanto não custava nada seguir a Jesus, os falsos discípulos caminhavam com Ele, enquanto Jesus realizava muitos milagres, enquanto o Senhor alimentava multidões e ressuscitava os mortos, enquanto Ele parecia ter muito favores a distribuir. Ele era aceito e celebrado, só enquanto tudo que Jesus parecia ser não confrontava a opinião geral, enquanto tudo que Jesus parecia ser não incomodava a vida de ninguém, Ele era aceito por estes falsos discípulos, apenas interessados em se dar bem. Mas aqueles que creem que Ele é o Santo de Deus, aqueles que creem que Ele é Deus, se interessam por aquilo que Ele tem a dizer e não se ofendem e não se escandalizam e se submetem, porque creem que as Suas palavras, são palavras de vida eterna”. Juliano Son


“Jesus é para a alma o que o pão é para o corpo, Ele alimenta e sustenta nossa vida espiritual” (Matthew Henry).