quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Sermão #17 Vitória pela Cruz



Sermão #17
Vitória pela Cruz
Por Leandro Boer

“Despojando as autoridades e poderes malignos, [Jesus Cristo] os expôs publicamente ao desprezo, triunfando sobre todos eles na cruz.”
(Colossenses 2:15)

Introdução

   Existem três tipos de explicações da Cruz: O objetivo, o subjetivo e o clássico. Nesta mensagem, vamos nos concentrar no conceito clássico, da vitória conquistada na cruz por Cristo e pela vitória estendida ao seu povo, tentando trazer um equilíbrio, pois nas mensagens anteriores nos atentamos para as visões objetivas e subjetivas, que acertadamente são mais enfatizadas para proclamar a mensagem de cruz.

As Três visões teológicas sobre a Cruz

A cruz de Cristo é explicada teologicamente através de três visões principais: no conceito “objetivo”, foi “de si para si” onde Deus satisfez a si mesmo, pagando o preço pelo pecado e salvando pecadores através do seu sacrifício. Este conceito foi defendido por Anselmo e pela igreja reformada. No conceito “subjetivo”, foi “de si para o homem” onde Ele nos inspira, retirando a culpa e revelando a si mesmo com seu santo amor provado por sua morte. Este conceito foi defendido por Abelardo e é defendido por boa parte da igreja atual. Por fim, no conceito “clássico”, mostra-se uma “guerra” onde Jesus vence o diabo garantindo a conquista sobre a morte e sobre todos os poderes do mal, sendo esse conceito defendido por Irineu, Agostinho e pela igreja primitiva. Assim, o Senhor Jesus Cristo é sucessivamente, o Salvador, o Mestre e o Vencedor, pois nós somos os culpados, alienados e cativos, em 1 Coríntios 1:30, Paulo apresenta esse “triplice cordão” apresentando Cristo sendo feito “justificação, santificação e redenção” por nós, referindo-se aos aspectos “satisfacionário”, “regenerador” e “vitorioso” da obra de Cristo, apontando que esses conceitos devem ser como três lentes sobrepostas criando uma visão harmônica onde a diferença principal está nos alvos da cruz: Deus, o homem e o diabo.
  

A vitória de Cristo

   A pregação dos dias atuais é sobre um evangelho triunfalista onde o homem é colocado no centro e lhe é prometido alcançar a “vitória”, até mesmo sobre pessoas que seriam inimigos, mas se refletirmos na palavra chegaremos a um único e real inimigo, o diabo, e existe apenas um Vencedor, Jesus Cristo; mas como enxergar vitória naquele que foi rejeitado pela sua própria nação, naquele que foi traído, negado e abandonado pelos seus discípulos e foi executado brutalmente na forma mais humilhante possível?
   Ao olhar para Ele pregado em uma cruz, despido de sua liberdade, preso e impotente, parece ser a derrota total, contudo a realidade é o oposto das aparências, o que parece a derrota do bem é na verdade a derrota do mal, a vítima era o vencedor e a cruz ainda é o trono da qual Ele governa o universo. Jesus venceu e triunfou, e isso o fez pela cruz. Era comum no vocabulário da igreja primitiva, palavras referentes a vitória, conquista e triunfo, e não apenas falavam mas cantavam “somos mais que vencedores”. Diziam “graças a Deus que nos dá a vitória” e “Deus em Cristo nos conduz em triunfo”.
O novo testamento é claro ao mostrar essa vitória contra todos os principados e potestades. Mas devemos ressaltar que atualmente existe uma certa fascinação, principalmente entre os jovens, pelo ocultismo, algo totalmente contrário em relação a pregação da igreja primitiva, onde existia até certo pavor em relação a demônios e feitiçaria. Por outro lado a modernidade criou certa incredulidade em relação as atividades demoníacas, logicamente não devemos nos preocupar excessivamente com o mal, mas o ceticismo é um dos objetivos do diabo.
    Mas como se realizou a vitória de Cristo sobre todo o mal? Embora a vitória decisiva tenha se  dado na cruz, as escrituras apresentam o desenvolvimento desta conquista, em seis etapas, conforme apontou John Sttot em seu livro “A cruz de Cristo”:

O prenúncio da vitória

   Em Gênesis 3:15, Deus disse a serpente: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”, a semente da mulher é identificada como sendo o Messias;  Jesus disse que Ele era o grão de trigo que deveria morrer para gerar muitos frutos; Eva representa a igreja do velho testamento e a serpente é o próprio diabo. Nesta profecia, conhecida com “proto-evangelho”, uma cena é apresentada: os dois seriam feridos; em algumas traduções existe o termo “esmagar” para a ferida na cabeça, mas o original apresenta termos iguais, é utilizado o termo “shuf”, que significa “bater com violência”. Em um mesmo momento, a serpente atacaria e feriria o calcanhar do Messias, isto é claramente para mim, representado no momento em que Cristo  teve seus pés perfurados e pregados na cruz, neste momento Satanás pensou que havia vencido, o que ele não imaginava é que quando Cristo foi ferido na cruz, o profeta Isaías diz que “Ele foi ferido de Deus” (Is 53;4). E que nesta mesma cruz, onde parecia ser o palco de sua derrota, Cristo literalmente “esmagou” a cabeça da serpente, ferindo-a mortalmente.

O início da vitória

   Ao reconhecer seu futuro conquistador, Satanás se empenhou por eliminá-lo, como vemos no caso do assassinato das crianças em Belém, ordenado por Herodes, vemos a tentação sofrida por Jesus durante 40 dias no deserto logo após iniciar seu ministério, a ideia implantada de um messias politico-militar. Jesus repreendendo Pedro acerca da necessidade de seu sofrimento e a traição de Judas que literalmente fora usado por satanás. Embora o inimigo tenha se levantado contra Jesus. Podemos vê-lo retroceder a medida que os demônios reconhecem o senhorio de Cristo e são expulsos, pessoas são curadas de suas enfermidades, e quando os discípulos voltam de uma missão emocionados por terem expulsado os demônios, Jesus declara que tinha visto Satanás “caindo do céu como um relâmpago” (Lc 10:18). Apontando para sua derrota certa, e declara ainda que  Satanás era valente, mas quando um mais valente que ele o vencesse, “tiraria suas armas e dividiria seus despojos” (Lc 11:22). Indicando a libertação dos seus escravos pelo mais valente, o próprio Jesus Cristo.

A realização da vitória

   No evangelho de João, o Senhor Jesus afirma por três vezes que o diabo seria julgado e expulso e isso se realizaria através da cruz, através de sua morte Ele destruiria “aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo”. Assim libertaria os cativos (Hb 2:14-15), mas talvez a passagem  mais importante do novo testamento, que apresenta a vitória do Messias, seja Colossenses 2:13-15, onde Paulo mostra Cristo, não apenas cancelando nossa dívida, mas também destruindo o documento na qual ela estava registrada. É bom deixar claro que Paulo considerava a lei “santa, justa e boa” (Rm 7:12), portanto esse escrito de dívida não era a lei em si, mas a lei “quebrada”. Isto é a lista que Satanás se utilizava com nossos delitos e quebra de mandamentos para nos acusar. Paulo apresenta então o perdão de nossos pecados e depois mostra a conquista contra os poderes malignos, dando a entender, que na cruz Jesus enfrentou uma batalha cósmica. Na qual os poderes das trevas o cercou e o atacou. Podemos ver isso no Getsemâni (Lc 22:53), mas Jesus resistiu firmemente indo até o fim (Fl 2:8). Ele desarmou o diabo, pois sua arma contra nós era a dívida que Jesus pagou, nisto consistiu a vitória sobre o inimigo e a libertação dos cativos.

A confirmação da vitória

   Muitos enxergam que a vitória não se deu na cruz, mas na ressurreição de Jesus Cristo. Essa visão não é correta, pois a vitória foi concretizada na cruz e na ressurreição, já que essa vitória é proclamada e aquele domingo de manhã foi anunciada a conquista: “Ele ressuscitou”. A cruz e a ressurreição devem andar juntas (Ap 1:18), pois a vitória é completa quando ambas são efetivadas, mas a palavra é clara ao declarar que não foi mediante a ressurreição, mas mediante a morte de Jesus que nossos pecados foram desfeitos, a eficácia salvadora está na cruz de Cristo (1 Co 1:18).

A extensão da vitória

   A missão da igreja, é pregar o evangelho no poder do Espírito Santo, pregar a Cristo como  Senhor, e este crucificado! Convocando o povo a se arrepender e crer nEle, e ao anunciar a vitória na cruz, os cativos são libertos, salvos pela graça mediante a fé, levados “das trevas para a luz” (At 26:18). Seria impossível por nós mesmos, lutarmos e derrotarmos o diabo. Isto agora é até desnecessário por que Cristo já o fez na cruz, portanto a vitória dos cristãos consiste em entrarem na vitória de Cristo e desfrutarem dos seus benefícios. Deus nos dá a vitória por meio de Jesus Cristo que morreu na cruz, mas ressuscitou e se assentou à direita do Pai e com Ele somos ressuscitados para nos assentar com Ele nos lugares celestiais.
Com Ele somos livres e reinamos, porém o inimigo se enfureceu ainda mais com o golpe fatal sofrido, e “anda rugindo como um leão procurando alguém a quem possa tragar” (1 Pe 5:8).
   O apóstolo João afirma que “o Filho de Deus se manifestou para desfazer as obras do diabo” (1 Jo 3:8), e segundo os escritores do novo testamento, essas obras são: a lei, a carne, o mundo e a morte, quatro tiranias onde a lei escravizava, a carne dominava, o mundo enganava e a morte reinava. A "antiga era" foi inaugurada em Adão, e Cristo vem para inaugurar uma "era" caracterizada pela graça e não pela lei, pelo Espirito e não pela carne, pela vontade de Deus e não pelas modas do mundo, pela vida abundante e não pela morte!

A consumação da vitória

    No livro de Apocalipse, uma das palavras de maior ocorrência é o termo grego “nike”, que significa “vitória”; no mundo antigo, Nike era a deusa da guerra, e neste livro profético João se refere a Cristo como “nikon”, o grande vencedor, sendo este título transferido a todos os guerreiros cristãos.
   O centro do livro; segundo Andrew Murray em seu livro “O poder do sangue”; parece ser o capítulo 12, onde é mostrado uma mulher grávida que está prestes a dar a luz ao que claramente é o messias. Essa mulher então representa a igreja do velho testamento de quem o messias precedeu. Surge então um dragão identificado como “a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás”, sua calda “arrasta uma terça parte das estrelas do céu”, que no caso são os anjos caídos, e atacam a mulher para devorar seu filho. Identificado como um rei que é arrebatado para o trono de Deus, a mulher foge para o deserto, apontando a igreja sendo provada e preservada. Logo ocorre uma guerra no céu onde o dragão e seus anjos são derrotados, e o dragão é atirado na terra, e destronado das regiões celestiais. Pois Satanás tinha acesso as reuniões celestiais como vemos no livro de Jó, onde ele acusa Deus de não saber governar sobre o homem, o vemos com poder, mesmo que limitado pela permissão e soberania divina; mas ele foi destronado pela morte Cristo na cruz, com sua vitória e ascensão (Jo 12:31). Satanás então reage, levantando um império na terra conhecido como “roma e babilônia”, perseguindo e enganando as nações, principalmente a igreja de Cristo. Realizando alianças, através de figuras representadas como “a besta, o falso profeta e a grande meretriz”. Que farão guerra contra o Cordeiro, mas serão destruidos ao fim, dando inicio a um novo tempo e a uma nova terra. Resumindo, a trajetória de Satanás é de quedas consecutivas, primeiro do céu antes da criação, depois das regiões celestiais, um nivel abaixo, quando Jesus o vence pela cruz e o destrona, agora Satanás opera na esfera terrena e por fim será lançado no mais profundo abismo. Ao contrário de Cristo e sua igreja, que são exaltados “de glória em glória”.

 Mas como podemos vencer aqui e agora com Cristo?

“Resistindo ao diabo” (Tg 4:7), “não dando lugar ao diabo” (Ef 4:27), “Proclamando o evangelho de Jesus Cristo, convertendo pessoas das trevas para a luz” (At 26:18). Satanás agora sabe que a cruz é o meio usado por Deus para vencê-lo, então lutará para nos afastar da cruz a todo custo, ele está como um dragão irado, “sabendo que lhe falta pouco tempo” (Ap 12:12). Portanto “revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo” (Ef 6:11). Vamos lutar contra todos os principados e potestades do mal, usando as armaduras espirituais que Deus nos concede para essa guerra e “o Deus da paz, esmagará Satanás debaixo dos vossos pés”(Rm 16:20).
    Para mim, a cena mais linda do Apocalipse é o casamento de Cristo com sua prometida e amada esposa, a noiva do Cordeiro. Adornada perante seu noivo, essa noiva é a igreja triunfante, que venceu “POR CAUSA DO SANGUE DO CORDEIRO” (Ap 12:11), vertido naquela cruz.

Conclusão


   Olhamos com expectativa para a consumação dessa conquista, Jesus venceu e reina, mas ainda aguarda até que seus inimigos sejam postos como estrado dos seus pés, e nesse dia todo joelho se dobrará e toda a língua confessará que Ele é o Senhor. Então o diabo será lançado definitivamente no lago de fogo, onde a morte e o inferno o seguirão.